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Livros da FUVEST

01 Oct 2002

Quem já prestou FUVEST sabe do grande dilema do vestibulando. Não, não é qual carreira escolher, e sim decidir se deve ou não ler as “obras recomendadas”. Por um lado, há a possibilidade de recorrer aos resumos e investir o tempo economizado em outras matérias. Por outro, é uma boa maneira de misturar estudo e lazer.

O mais inteligente, pensei, seria procurar saber quais livros têm uma leitura compensadora (tanto do ponto de vista do vestibular, quanto do prazer da leitura), e combinar a sua leitura com os resumos dos que não fossem tão interessantes. Entretanto, ao procurar as opiniões das pessoas sobre este assunto descobri que há, basicamente, dois “partidos”: os literatos, que defendem que todas as obras, sem exceção, são os expoentes máximos dos seus períodos, e portanto ótimas, e a geração malhação, que acha que livro bom é aquele que acompanha os lápis de cor – de preferência com números indicando quais cores vão aonde.

Na falta de uma opinião menos polarizada, optei por ler todos os livros. E achei por bem deixar aqui minha opinião sobre eles, que, embora esteja longe de ser uma palavra final, ao menos é uma opinião sincera de “consumidor”. Para manter a objetividade, me limitei a um parágrafo por livro. Vamos a eles:

Os Lusíadas: Embora a FUVEST só peça a leitura de dois episódios (Inês de Castro e O Velho do Restelo), fiquei tentado a ler o livro todo. Lembrei-me, entretanto, de uma infeliz tentativa de ler a Odisséia (ou teria sido a Ilíada? sei lá, faz tempo) para entender um texto sobre filosofia grega, e optei pelo meio-termo: a Ed. Ática tem uma edição baratinha, chamada “Os Lusíadas” mesmo, mas que é uma seleção dos episódios mais significativos, alternados com explicações que traduzem aquele idioma estranho de Camões para o português. O livro é bem mais divertido se precedido de uma aula e/ou texto explicativo (especialmente no tocante à Inês de Castro), mas também dá pra encarar a seco numa boa.

Memórias de um Sargento de Milícias: Honesto. Não vai tirar seu fôlego nem te deixar pensando na vida ao final, mas é uma leitura interessante e agradável, que vai direto ao ponto, sem se perder na sua multiplicidade de personagens.

O Primo Basílio: Tinha potencial para ser um livro divertidíssimo, se fosse enxugado em pelo menos 25%. Longas e desnecessárias descrições, personagens secundários que pouco acrescentam à trama ou à caracterização dos principais, é digerível se o leitor eventualmente passar reto por algumas descrições excessivamente detalhadas de lugares e principalmente pelas reflexões de Luísa – vale conferir num resumo a idéia geral e pular estes tangos.

Memórias Póstumas de Brás Cubas: O começo é um porre – não é à toa que fez muitas “vítimas” – faça uma pesquisa rápida entre seus amigos (os minimamente letrados, claro) e veja quantas pessoas começaram a ler este livro e largaram para fazer algo mais agradável, como extrair um dente ou pagar uma conta no Bradesco. Meu conselho é: persista. Passado o início modorrento ele fica mais do que passável. Quando o autor vier com papos do gênero “…se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo”, OBEDEÇA. No seu leito de morte, você agradecerá a mim e ao Machado de Assis por termos lhe evitado o desperdício de quatro ou cinco preciosos minutos da sua vida.

Macunaíma: Ok, disse lá em cima que não queria saber da representatividade do livro no movimento literário, mas esse não tem como deixar passar: quando se lê esta fotografia da mente de Mário de Andrade fica-se imaginando a putaria tresloucada que rolou na tal Semana de 22. É divertido ver como ele mistura lendas reais com inventadas, e como ele mescla elementos de fantasia com elementos reais do Brasil todo, levando a gente a imaginar um Brasil ficcional que poderia ser palco de centenas de outras histórias (talvez fosse injusto, mas Neil Gaiman foi a primeira coisa que me veio à cabeça para comparar). Não é uma missão para os fracos: os neologismos e referências locais são tantos que o texto lembra apenas vagamente o português que nós conhecemos. Mas compensa o esforço.

Libertinagem: Embora me tenham como um bocadinho mais sensível do que a média, no fundo soy un hombre latino – e ainda por cima, da Vila Ema – ou seja: poesia não é muito minha praia. Assim, agradeço aos examinadores da FUVEST, que reservaram à poesia um livro minúsculo – tão curto que a edição da Nova Fronteira encaixou outra coleânea do autor e uma cronologia da vida dele para dar um mínimo de volume. Eu optei por ler o livro todo, e depois partir para o resumo/comentário do Objetivo. Mas o livro é *tão* fino que mais da metade dele é reproduzida no comentário. E pelo estilo da pergunta que se faz na primeira fase, mais vale conhecer o Modernismo do que ter lido o livro. Pena.

Primeiras Estórias: Esse foi, possivelmente, a maior tortura de todos. Dizer que cheguei ao fim é quase um exagero, pois nas últimas páginas eu mal aguentava. Quem for um pocuo menos casca-grossa do que eu talvez aprecie o estilo ou algum detalhe que eu ignorei. Só lamento que este tenha sido o único livro no qual investi em uma edição mais cara (R$ 29). Alguém quer comprar? R$ 10 é seu, aceito tíquete e vale-transporte.

A Hora da Estrela: Vou fechar este texto com (mais) uma heresia: Chico Buarque não é perfeito. Descobri isto ao ler Estorvo, de sua autoria, onde ele tenta imprimir um ritmo ao autor-personagem que simplesmente não funciona. E o que isso tem a ver com este livro? Tudo: a estratégia é a mesma, com uma desvantagem – o autor-personagem tem participação mais emocional do que efetiva na história. Entendo quem queira conferir pessoalmente, mas um resumo cairia muito bem, já que história, história, não tem muita.

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